Ponto de Vista

É a disputa pelo pós-Lula o que cria dificuldades ao governo de transição

Há pelo menos quinze anos, desde que as propostas bolivarianas de uma segunda reeleição consecutiva foram contidas, o Brasil discute quem seria a grande liderança progressista após a aposentadoria de Lula. Marina Silva foi a primeira a se apresentar, e por isso seria tão atacada. À frente de um Ministério da Educação que evitava greves com uma maestria que faltou à gestão tucana, Fernando Haddad era outra aposta segura. Mas o próprio Lula decidiu que a missão caberia a Dilma Rousseff, a quem ofereceu o PAC, uma espécie de ministério informal de infraestrutura.

Quando Lula e Dilma romperam (um fato que o PT até hoje prefere restringir aos bastidores), o lulismo apostou em Eduardo Campos, enquanto o dilmismo preparou o terreno para Aloizio Mercadante. Mas um acidente aéreo e fases da operação Lava Jato fizeram com que os planos fossem abortados.

No fim e paradoxalmente, coube ao próprio Lula ser o pós-Lula. Mas o presidente eleito já deu garantias de que não tentará a Presidência uma — checando notas e considerando o movimento ‘Volta, Lula!’ de 2014 — nona vez. E os 81 anos que terá ao iniciar um eventual quarto mandato levam a crer que a garantia seria mesmo séria.

Restam, por ora, os destaques da eleição de 2022. À frente da transição, Geraldo Alckmin é o nome que empolga os neopetistas que se uniram à trupe contra a Lava Jato. Há, claro, Haddad, presenteado com um Ministério da Fazenda que, se bem gerido, pode garantir-lhe a simpatia da Faria Lima na próxima corrida presidencial. A esquerda mais jovem e identitária há de preferir Guilherme Boulos. Tem Simone Tebet, que surpreendeu a todos com uma autenticidade rara no mundo político. E Marina Silva, que dispensa apresentações, possui diálogo com o meio evangélico, e chegará a 2026 com menos de 70 anos de idade — ou ainda jovem para padrões políticos.

Sim, as cinco mil pessoas que colaboraram com a equipe de transição discutem a reconstrução do país. Mas as (convenhamos, poucas) dificuldades que vieram a público denotam que, como bem calejados, os envolvidos na montagem do quinto governo do PT já olham para 2026 com a sede de quem pretende herdar os 60 milhões de votos somados por Lula em outubro passado.

E nem se trata de uma discussão precoce. Os dois últimos casos de sucesso permitem concluir que o próximo brasileiro a vencer uma corrida presidencial já está em campanha neste exato momento. Só o tempo, contudo e por óbvio, confirmará o vencedor.

To Top