Na quinta-feira, dia 25, Jair Bolsonaro anunciou e nomeou o novo ministro da Educação. Desde então, descobriram que Carlos Alberto Decotelli teria plagiado trechos de outros trabalhos na dissertação de mestrado, foi reprovado na tese do doutorado, não teria feito pós-doutorado na Alemanha, e exagerou até no currículo militar.
Diante das revelações, o presidente da República adiou a cerimônia de posse, e desistiu de ter Decotelli no MEC, mas recuou do recuo após uma conversa com o próprio economista. Contudo, ao vir à tona que nem professor efetivo da FGV o ministro fora, Bolsonaro forçou um pedido de demissão para evitar o desgaste de derrubar o primeiro negro para quem entregou um ministério.
Melhor do que Weintraub
Mesmo com tamanha lambança, resta o alívio de que o MEC não mais está aos cuidados de Abraham Weintraub, um transtorno que, por um ano, dois meses e onze dias atormentou o país com uma infinidade de provocações, presepadas e polêmicas desnecessárias. A paciência se esgotou quando veio a público a íntegra da reunião ministerial de 22 de abril. Nela, os presentes deveriam apontar saídas para a crise econômica que se iniciava. Contudo, sem nada de útil a apresentar, o ainda ministro da Educação deu chilique contra a política em si, e defendeu a prisão dos membros do STF.
Volta, Vélez
Weintraub foi um ministro tão ruim que findou por “descriminalizar” a saudade de Ricardo Vélez Rodríguez, professor colombiano demitido após o MEC viver uma guerra civil entre servidores com um mínimo de experiência, militares com um mínimo de noção, e os abilolados que diziam seguir instruções de Olavo de Carvalho.
Sinistros
Os ministérios servem para que o Governo Federal consiga priorizar temas caros à sociedade. Mas, uma vez no Palácio do Planalto, é nítido que Bolsonaro entregou a alguns auxiliares a missão de atacar tudo aquilo que deveriam defender. Weintraub, por exemplo, não servia à Educação, mas ao ranço de quem se frustrou com a academia.
Passando boiada
Algo semelhante pode ser dito de Ricardo Salles. A tal reunião de 22 de abril deixa claro que o ministro não trabalha a proteção do meio ambiente, mas a destruição da política ambiental em si. De tal forma que faz com a que a ministra da Agricultura, ciente do estrago na imagem do agronegócio brasileiro, soe uma gestora mais preocupada com o verde.
Guerra abilolada
Assim como Ernesto Araújo não usa o Itamaraty para que o Brasil pacificamente resolva conflitos internacionais. Pelo contrário, prepara o país para uma guerra ideológica que só faz sentido em cabeças igualmente lunáticas.
Ministério dos Evangélicos
A missão de Damares Alves parece mais clara. À frente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, não está lá pelas mulheres, pela família, nem pelos direitos humanos. Mas pelo que há de mais questionável na abrangência do termo “evangélico”.
Terrivelmente evangélico
Sucedendo Sergio Moro, André Mendonça não está no Ministério da Justiça para fazer Justiça, mas para enterrar de vez a Lava Jato, uma operação que, goste-se ou não, havia descoberto uma fórmula para se combater a corrupção de uma cleptocracia como a brasileira.
Um ministério extra
Assim como está cristalino que Augusto Aras foi escolhido fora da lista tríplice não porque faria um trabalho justo como procurador-geral da República, mas para rebaixar a PGR a 24º ministério de Bolsonaro.
Piada de mau gosto
Nessa lista, cabe ainda o nome de Augusto Heleno, que deveria zelar pela “segurança institucional”, mas, entre uma e outra manifestação golpista, disse que não cabia ao GSI analisar o currículo de ministros contratados; chamou de “falta de sorte” a prisão na Espanha de um sargento brasileiro que transportava 39 quilos de cocaína na comitiva presidencial que rumava ao G20; e deixou vazar na web o próprio CPF, o que rendeu até tentativa de filiação ao PT.
“Patrão”
Nos escalões secundários, a situação não é muito diferente. Não se trata de um uso inédito. Mas, no governo Bolsonaro, a SECOM servia apenas para espalhar narrativas toscas com blogueiros igualmente toscos, e achacar veículos de mídia ainda dependentes de verba estatal.
Parafraseando nazista
Para a Fundação Palmares, Bolsonaro recrutou um negro que está lá para justamente lutar contra a causa negra. Quando tentou domar a Secretaria de Cultura, Bolsonaro aplaudiu o secretário que lançou uma campanha —não há melhor forma para definir isso— nazista.
Sem ministro na pandemia
Dos ministros que tentaram fazer um trabalho minimamente sério, cinco caíram antes de o governo chegar a 18 meses de mandato: Gustavo Bebianno, Carlos Alberto dos Santos Cruz, Luiz Henrique Mandetta, Sergio Moro e Nelson Teich. A pasta da Saúde, inclusive, está há 48 dias sem ministro mesmo com o país rumando ao milhão e meio de casos de covid-19.
Pode piorar
Anderson Ribeiro Correia, reitor do ITA, é um dos cotados para assumir a vaga aberta no Ministério da Educação. Em 2019, quando presidia a Capes, baixou uma portaria dispensando “produção acadêmica” na escolha de professores de mestrado e doutorado à distância. Era uma exigência de apoiadores evangélicos muito bem vista pela ala abilolada do Palácio do Planalto, aquela que fez curso online com o filósofo amador que reside nos Estados Unidos.
E muito
É a mesma turma que Ilona Becskeházy, doutora em política educacional pela USP, busca agradar para se tornar ministra. Antes, já havia criticado a imprensa emulando os erros grosseiros do chefe anterior, Abraham Weintraub. Desde já, Decotelli deixa saudades.
Fontes
Esse texto só pôde ser escrito graças ao trabalho de uma imprensa profissional que apurou as informações referenciadas mais acima, e que aqui embaixo é reverenciada: BBC Brasil, CNN Brasil, Congresso em Foco, Correio Braziliense, Época, Estadão, Exame, Folha de S.Paulo, G1, IstoÉ, Metrópoles, Nexo, O Antagonista, O Globo, Poder 360, Terra, UOL, Valor Econômico e Veja.
Não existe país decente sem imprensa livre.
